quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os novos "indies"

Salve galera! Faz tempo que não posto e quero dividir com vocês alguns textos bem interessantes que traduzem o que penso sobre o cenário "indie"...

É estranho ver e ouvir algumas bandas que não tem o tal "algo a mais" e de certa maneira são "cultuadas" por um cenário "pseudo-alternativo"... eu nunca vi muito sentido nisso e sempre me achei meio deslocado e até doido por não entender... um texto do Álvaro Pereira Júnior meio que traduziu o que acontece nesse meio onde tanto falam de "coletivo isso", "o coletivo aquilo"... no fim só saíram as gravadoras, mas continuam os vampiros... sejam os promotores dos shows, ou aquelas bandas que ninguém fora do "cenário indie" conhece. Bandas que nunca serão grandes porque o que querem mesmo é o dinheiro dessas turnês fajutas... e claro que existe a exploração das bandas novas. Isso nunca vai acabar... por isso eu continuo com a minha postura: prefiro não tocar do que ser sugado.

Leia o texto que começou a polêmica: 

(ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR - É proibido criticar

O "NME" faz um tipo de jornalismo e tem uma relação com artistas impensáveis no Brasil atual



Por uma boa causa, quebrei uma escrita de mais de dez anos: comprei o "New Musical Express", o semanário londrino que pauta 100% da imprensa musical do planeta. Fui atraído pela capa, sobre os 20 anos do álbum "Nevermind", do Nirvana. Mas o que encontrei foi muito além disso. Uma publicação vibrante, bem escrita, quente e, acima de tudo, apaixonada.
Bandas de meninos de 19 anos são apresentadas como a salvação da Terra. Álbuns de artistas iniciantes tanto podem ser elevados às alturas mais extremas, quanto eviscerados por uma crítica negativa.
Eu não comprava mais o "NME" por teimosia. Por julgá-lo uma fábrica de "hypes". Por achar melhor pensar com minha própria cabeça do que simplesmente seguir o que o semanário chancela.
Mas vejo que vacilei. O "NME" faz um tipo de jornalismo, e tem uma relação com artistas, impensáveis no Brasil atual.
A tensão criativa que ele tão bem expressa não encontra eco por aqui. Pelo menos não no dito cenário independente de São Paulo, que acabo acompanhando mais de perto.
Em terras bandeirantes, praticamente não há mais distinção entre jornalistas e músicos. É todo mundo meio blogueiro, meio "tuiteiro", meio crítico, meio artista. É todo mundo muito amigo, tudo é muito fofo, tudo é muito "amor" (aos mais velhos e aos off-line, explico que "amor" vem sendo usado como sinônimo de "ótimo").
Em qualquer jornal, revista ou site, em qualquer blog ou conta do twitter, você vai ler exatamente os mesmos elogios para o rap feito sob medida para jornalistas branquinhos de Criolo, para a bossa velha de Romulo Fróes, para o sambinha sem "cojones" de Thiago Pethit.
Para complicar esse quadro de complacência, quase toda a cena de música independente no Brasil está de costas para o público. Não precisa dele. Abrigou-se sob um guarda-chuva estatal ou paraestatal.
Novos artistas (e muitos nem tão novos assim), praticamente só tocam em dois tipo de casa: Sescs ou no Studio SP, na rua Augusta.
Os Sescs, regiamente mantidos por um imposto compulsório, têm uma peculiaridade: pagam cachês altos, muito acima do mercado, e cobram ingressos baratos (isso quando cobram alguma coisa).
E o Studio SP, uma potência que não para de crescer (tem agora um irmão recém-inaugurado, o Studio RJ), opera numa interface entre o mundo artístico e o político-partidário que eu prefiro não conhecer.
Cria-se assim o seguinte quadro.
A crítica não perturba. Todos, "críticos" e músicos, rezam pelo mesmo catecismo consensual.
Os artistas não precisam nem querem crescer. Estão satisfeitos com o esquema dos Sescs, que lhes paga mais do que merecem. E não precisam correr atrás de público. Por si, os shows baratos e os festivais gratuitos, bancados por governos, já atraem o pessoal.
Aponte um músico ou banda que tenha surgido desse mundo indie estatal, de Sescs, Studio SP, verbas da Petrobras, do MinC, de secretarias de Cultura, um único artista desses que seja maior hoje do que há cinco anos. Não existe.
Pode-se fazer uma crítica política a esses indies estatais, ao seu adesismo lulista e seu aparelhamento de editais e verbas públicas para a cultura.
Mas minha crítica é mais simples, tem a ver com estética e mercado. Qual a real inovação trazida por Criolo, Fróes, Pethit e congêneres? E até quando esses indies sambistas -e as bandas do tal circuito "fora do eixo"- vão ficar pendurados em Sescs, festivais gratuitos e dinheiro do governo? Se o lulismo desaparecer um dia, a música brasileira se extingue também?
Sei que não sou o cara ideal para dizer essas coisas. Porque tenho 48 anos e porque nunca morri de amores pela MPB. Este texto pode ser descartado como ressentimento de um coroa que não entende a harmonia brasileira do século 21, ou ranço de um incapaz de captar a beleza de nossa música.
Mas acabei escrevendo esta coluna porque a leitura do "NME" me estimulou.
Lembrou-me que, em algum lugar do mundo, existem músicos que buscam de verdade aumentar sua base de fãs, porque precisam deles para sobreviver. E existe um jornalismo musical que vibra e incensa, mas que também incomoda. Vou assinar o "NME".)

Simplesmente matou a pau! Claro que muitos se ofenderam e reclamaram... mas muito mais gente concordou com o cara. Eu concordo e muito.
Após as críticas ele ainda escreveu outro texto.

(ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR - Adeus aos Indies

Logo vestiu a carapuça e, como aquele fã do Restart, foi correndo xingar muito no Twitter


Atirei no que vi, acertei no que não vi, sobrou para mim. Falo de minha coluna passada, em que critiquei um nicho da MPB paulistana, o indie-sambinha, e a reverência que recebe da imprensa musical.
Escrevi que esses artistas, tão bajulados, acomodaram-se tocando em Sescs e no Studio SP, casa para 500 pessoas na rua Augusta.

A coluna tinha um evidente tom de provocação, mas não se dirigia a ninguém em especial. Avaliava, em termos gerais, o cenário independente ("indie"). Sua dificuldade -ou desinteresse- de atrair mais público, e sua dependência de esquemas estatais (editais de cultura) ou paraestatais (os Sescs).
Um jornalista da Ilustrada, setorista no lado ímpar do Baixo Augusta, não gostou. Vestiu a carapuça e, como aquele fã do Restart, foi correndo xingar muito no Twitter.

Diante da polêmica disparada pelo repórter -e do fato de ela ter sido descoberta na web por uma leitora, que a enviou à ombudsman-, a Ilustrada publicou uma reportagem, em 7/10, debatendo meu texto.
Nela, o setorista tuiteiro foi destaque. Suas palavras a meu respeito, antes restritas a seus parcos seguidores, ganharam espaço no jornal.

Ele aproveitou a chance. Reiterou as ofensas e garantiu não ser amigo do músico Thiago Pethit, a quem procurou no Twitter para atacar a coluna (deve ser assim no mundo dos 140 caracteres: quando a chapa esquenta, você entra lá e faz agrados a gente que mal conhece).
Também explicou sua filosofia jornalística: "Se o cara que está surgindo lança um disco ruim, você não vai gastar espaço com ele".

O "Guardian", grande jornal inglês, faz diferente. Não poupa artistas iniciantes. Semana passada, publicou uma crítica, de Peter Robinson, à novíssima geração pop, "the new boring" ("os novos chatos"). A música que fazem é, segundo o "Guardian", "beige pop". Tipo indie-sambinha. Veja: tiny.cc/56cc0.

Outra leitura iluminadora é a revista "Mojo" de outubro. Nela, Nick Kent rememora uma crítica brutal que fez a um show do Pink Floyd, em 1974, no semanário "NME".

Pouco depois, encontrou um músico do Floyd numa festa. Pronto para ser surrado, Kent teve uma surpresa.

Agradecido, o roqueiro disse que o ataque levara a banda a refletir -e a se tornar melhor. Sobre indie-sambinha, era isso.

Agora, vamos a outro ramo independente, citado de passagem na última coluna: o indie estatal. Com representantes em todo o Brasil, tem foco no financiamento público (embora aceite também ajuda privada).

Sua expressão maior é o Fora do Eixo, uma central que aglutina vários grupos produtores de arte.
O Fora do Eixo surgiu em 2005, em Cuiabá, e prosperou sob Gilberto Gil e Juca Ferreira no Ministério da Cultura. Com Ana de Hollanda, perdeu espaço. Há alguns meses, transferiu a sede para São Paulo.
Sua expressão-chave é "cadeia produtiva". Se você perguntar a um Fora do Eixo sobre o tempo, ele dirá que a "cadeia produtiva do processo de formação de cristais de gelo no interior de cúmulos-nimbos está se intensificando". Significa que vai chover.

Como quem os critica é rotulado de "direitista", indico esta análise de esquerda, de José Arbex Jr., sobre o FdE: tiny.cc/moyq6.

E recomendo vivamente esta entrevista do cantor China, também apresentador da MTV: tiny.cc/sao3j. Trata da necessidade -ou não- de o modelo Fora do Eixo existir. E discute até que ponto da carreira cabe pedir verba pública.

Como vimos, indie-sambinha e indie estatal não são iguais. Mas algumas coisas os unem. Como seu porto seguro paulistano, o Studio SP. Sobre este, escrevi que "opera em uma interface entre o mundo artístico e o político-partidário que prefiro não conhecer".

Na Ilustrada, o dono rebateu: "É natural que o novo modelo de negócios seja diferente dos jabás e da indústria com a qual ele está acostumado". Decifrar o que essa resposta tem a ver com o que eu disse é missão para um Champollion, um Alan Turing. Mas tento.

Como empresário bem relacionado e em rápida ascensão, é natural que o proprietário do Studio SP se veja cercado de uma claque. Talvez, nessa turma, haja jornalistas parceiros. Se houver, é isso: fui confundido com um deles. Esses, sim, sabem tudo de jabá. Adeus, indie-sambinha; adeus, indie estatal. Se possível, até nunca mais.)

Depois dei uma procurada e achei outros textos bem interessantes sobre esse "coletivo".

Vejam esse: 

(Bela independência, hein?

Há muito tempo venho falando do descabimento que é a existência de uma rede política abastecida e alimentada por recursos públicos originalmente destinados à cultura.

Essa panelinha, que começou a tomar forma nos idos de 2000 e que no fim da década havia se transformado em um monstrengo voraz, não conseguiu revelar sequer uma banda ou artista minimamente relevante em mais de dez anos de atividades. Mas, isso não é empecilho para que os eventos ligados ao circuito Fora do Eixo continuem a ser contemplados generosamente pelos editais da vida.

A verdade é que se criou uma rede obscura formada basicamente por produtores, seus agregados e por uma dedicada rede de comunicação formada pelo que costumo chamar de Série B das editorias de cultura dos jornais. Aqueles jornalistas cuja opinião é trocada por rango e birita nos backstages desses festivais (rango e birita financiados também por recursos públicos, diga-se) ou por credenciais, discotecagens e entradas francas em festas promovidas pelos mesmos produtores.

Mas, o que me assusta de verdade é que aquilo que antes era apenas insinuado, hoje é assumido e divulgado sem o menor pudor. A foto da postagem, em que o gestor do Fora do Eixo, uma beldade chamada Pablo Capilé aparece ao lado do ilibado José Dirceu, foi publicada pelo próprio em seu twitter e ilustra bem o que é esse circuito Fora do Eixo.

Não, amigos, não é uma associação mecenas que procura difundir a cultura nacional de forma abnegada como dizem. É um grupo político, apesar de financiado por leis de incentivo à cultura, com objetivos que passam longe das demandas do setor cultural. Simplesmente, porque não há preocupação nenhuma com a cultura. Como todo grupo político, o que o Fora do Eixo faz é brigar por frações de poder e por dinheiro.

Formô, mano, é nóis
A minha pergunta é a seguinte. Até quando essa cena indie-estatal continuará sendo financiada pelo Estado brasileiro? Até quando essas pessoas continuarão a ser tratadas como bastiões da cultura?

Em 2011, algumas das principais bandas independentes brasileiras encerraram as atividades por necessidades financeiras. No entanto, os produtores ligados ao esquemão indie-estatal continuam firmes, fortes e sorridentes, sem dar sinal nenhum de insatisfação com o quadro atual. A dúvida é: Até quando?)





É mais um texto sincero que questiona esse modelo.

Também é impactante a entrevista do músico China (sugerida no segundo texto do Álvaro). Veja trechos:


Você sempre manteve uma postura bastante crítica ao modus operandi dos coletivos que integram o Fora do Eixo, se posicionando contra artistas e bandas tocarem sem receber cachê. Ao mesmo tempo, o Fora do Eixo diz que esse esquema dá visibilidade para os grupos iniciantes e podem resultar em turnês pagas.
Eu não sou contra as bandas que tocam de graça, até porque gosto de várias bandas que tocam nesse circuito. Mas cada artista sabe o que quer da sua carreira. Eu mesmo já fiz muitos shows gratuitos na minha vida, mas acho que tem que saber quando e onde tocar de graça. Se valer a pena, por que não? O que eu questiono no Fora do Eixo é o seguinte: Se é um orgão que recebe dinheiro público para as suas atividades, porque os músicos não estão sendo remunerados? Eu não vejo o nome de nenhuma banda ligada ao Fora do Eixo ficar maior do que a própria entidade, se é que podemos chamar de entidade. Eu só vejo o nome do Fora do eixo aparecer mais do que as bandas. Nesse esquema deles, a banda sempre fica em segundo plano...tanto no pagamento dos cachês como na divulgação do próprio artista. E mais, vale a pena tocar de graça numa cidadezinha do interior de não sei onde, numa quarta feira às 23h? Show de graça só vale a pena se tiver na platéia um monte de gente, formadores de opinião, e outros contratantes de shows. Toquei de graça no primeiro Abril pro rock, e saí de lá com contrato assinado por gravadora, um empresário, e destaque em todos os jornais do país. Saca a diferença? Tu acha que algum cara de gravadora ou algum formador de opinião vai aparecer num show de uma cidadezinha longe pra cacete, numa quarta feira, só pra ver tua banda? Não é assim que as coisas acontecem. Até porque as gravadoras quebraram...e sinceramente, não vejo vantagem nenhuma pertencer a uma gravadora hoje em dia. O melhor é cuidar do seu próprio trabalho e se valorizar. Tem que abrir o olho pros espertalhões do dinheiro público, senão você está sendo apenas usado para que outra pessoa ganhe em cima de você. Posso te contar milhares de bandas que se decepcionaram com esse esquema e estão saindo fora, mas não vale a pena ficar falando das bandas, pois como eu já disse, cada um faz o que quer da sua carreira. Só acho que esse lance do Fora do Eixo é muito papo furado, onde quem se beneficia são os curadores desse negócio e não as bandas. Quem você acha que tá bancando a casa Fora do eixo em São Paulo? as bandas? o circuito que eles fazem pelo país? Não!!! Quem banca essa festinha é o dinheiro público...mas se a matéria-prima de todo festival de música são as bandas, porque elas não estão recebendo por isso? E não sou contra o Fora do Eixo, pelo contrário, acho a idéia de ter uma rede de festivais pelo país sensacional, o que eu questiono é o modus operandi da coisa. O Fora do Eixo não está fazendo nada que uma banda independente não possa fazer sozinha. Na verdade, o Fora do Eixo é o atravessador da coisa. E sempre que tem atravessador na parada, pode ter certeza de que algum ele tá levando...e se esse algum for pouco, você não levará nada. Então é bom abrir o olho. 

Li uma entrevista da Trip em que você diz que“você tem o incentivo e depois tem que se virar, andar com seus próprios pés". Você acha possível viver somente de música, financiando seus próprios álbuns, e todo o resto, apenas com shows?
Eu vivo assim até hoje e pago todas as minhas contas em dia. O Simulacro teve o incentivo do Funcultura. Era muita cara de pau ir lá me inscrever para pegar essa grana de novo, né? já fui incentivado, e depois me virei com meus próprios recursos. Sempre vivi da minha música e estou muito feliz em saber que posso arcar com as despesas de um disco fazendo shows e outras atividades artísticas. Não estou dizendo que as bandas não devem usar esse incentivo...devem sim, pois o governo também precisa cuidar da cultura do país, mas acho que todos, governo e artista tem que ter um "semancol", né? Se já foi incentivado, se vira e faz tua carreira andar, pois existe um monte de artistas que precisam dessa grana também. Você não acha um absurdo eu ter bancado o meu disco do próprio bolso, enquanto artistas consagrados usam a muleta das leis de incentivo para bancar os seus projetos? Se eu, que não sou nenhuma celebridade da música, consegui, por que os artistas consagrados não bancam suas obras também?

Leia a entrevista completa aqui >>> entrevista completa

Fiquei feliz ao ver essa matéria onde vi que o que eu suspeitava era a verdade... o sistema está mais corrompido do que eu achava... eu via bandas legais acabando e algumas sem sal tocando e sendo "cultuadas"... aos poucos estou formatando a minha maneira de fazer e distribuir a minha música. Acreditando sempre... e buscando meios pra superar os absurdos. Sempre.


Beijos e abraços e fiquem com Deus!

Rafael