terça-feira, 31 de julho de 2012

Praia, férias, viagens e mergulhos

O sétimo mês do ano está quase no final e eu já comecei a pensar em férias e consequentemente em praia... de onde vem esse fascínio pelo litoral? A beleza e a força natural do mar tem peso, mas acredito que há muito além.


Impossível descrever o que sinto


Essa fuga anual talvez sintetize o momento onde a pessoa pode se expressar, fazendo o que ela realmente quer (ou acha que quer fazer).
Ela estará no controle, ela escolherá pra onde vai, ela não precisará se esforçar e agradar ninguém pra ganhar dinheiro. Na verdade será agradada pra dar dinheiro pra outros. Algo diferente e estimulante. Por um momento ela estará no controle. (Será mesmo?)

Pra alguns uma viagem não deixa de ser uma conquista como um carro ou uma casa. É algo pra ser mostrado e divulgado. "Estivemos em tal praia, o serviço era ótimo". Não interessa se a viagem foi legal ou não. O negócio é ostentar a conquista. Falar o valor dos imóveis do local. O preço dos restaurantes e de quantos carros importados diferentes tinham por lá.
A praia? O mar? Que mar!?

Pra outros essa viagem vem com as mesmas obrigatoriedades do dia-a-dia: "Vamos criar uma agenda! Vamos produzir! Ver tantas praias, ver tal dj naquela balada, fazer caminhada, jogar vôlei, tomar aquela caipirinha, comer porção de camarão, levar as crianças na feirinha". Tudo devidamente registrado e postado em tempo real nas redes sociais.
No final tiveram mais tarefas do que no próprio trabalho. Voltam mais cansados, cheios de momentos mas sem nada pra lembrar.
O mar foi um mero figurante.

Pra outros é um momento de lembrança, de nostalgia. Muitas viagens marcantes tiveram o litoral como destino. E a pessoa sempre volta. Como se aquele ambiente pudesse despertar um vigor e uma euforia de outros tempos. Como se aquele pessoal fosse aparecer do nada fazendo aquelas piadas de 20 anos atrás.
Mas as pessoas e as responsabilidades são outras... então a solução é fazer o que já é feito durante o ano todo: beber pra se anestesiar e esquecer.
E o mar acaba trazendo mais dor do que paz.

E eu? O que eu quero de uma viagem?

Na minha próxima viagem vou fazer algo que sempre faço e acredito que seja necessário pra todo ser humano de vez em quando: só avisarei a minha mãe sobre o meu destino, desligarei e esquecerei o celular e a tv, guardarei meu relógio, comerei fora de hora e quando chegar na praia, encararei o mar e darei um mergulho sem pensar em nada.

E por um momento os dígitos não terão importância.

A crise em algum país com nome impronunciável não me afetará.

A dor que as pessoas causam a si mesmas, os que insistem em vomitar suas falsas verdades (pra tentar esconder suas frustrações e falta de coragem) nos que os cercam... naquele segundo isso não existirá.

Mágoas, moda, vaidade, celebridades, metas, mentiras, protocolos... que tolice!

Darei o mergulho e quase que inconscientemente e instintivamente eu e o planeta seremos um só. Um organismo autônomo e responsável por si e apenas por si. Um silêncio raro. Já senti isso algumas vezes... é um reencontro com algo primitivo e maravilhoso.

E assim voltarei com mais força pra sociedade que insiste em tentar provar que eu e você somos ninguém. Que somos só mais um.

Quando nos tornarmos capazes de mergulhar em nós mesmos pra recarregarmos as baterias e encontrarmos a paz, veremos muito mais beleza no mar, no céu, no amor, num sorriso, numa viagem, na simplicidade, na verdade... na vida.

Um mergulho por vez. Um mergulho por vez.



Dezembro nunca esteve tão longe.

Rafael Corrêa