quinta-feira, 29 de março de 2012

Renato Rocha (ex-baixista da Legião Urbana) e as escolhas e conseqüências


Era mais um domingo preguiçoso daqueles onde eu quero sumir e desacelerar os pensamentos... principalmente pela semana corrida (com direito a um evento em Maresias no sábado).

Estava dando uma olhada na tv e do nada passei pela Record e vi a chamada do Domingo Espetacular: “exclusivo: o ex-baixista da Legião vira morador de rua”. Aquilo me intrigou e eu quis assistir de qualquer jeito.

A Legião fez parte da minha iniciação na música e é super importante na minha vida... sem contar o carinho que eu tenho pelas linhas de baixo do Renato Rocha (tenho veneração por “Acrilic On Canvas”). Caráter e desavenças deles a parte, eu sempre gostei dos baixos que ele gravou.

Claro que eles deixaram a matéria pro final. Do nada eu vi um cara que era saudável e esportista (Rocha foi jogador de vôlei, vice-campeão brasileiro de queda de braço em 1978 e adorava bicicleta... tenho no meu inconsciente as imagens dele andando de bike no clipe de Angra dos Reis) arrebentado e totalmente confuso. Do mega estrelato Rocha agora vive uma situação de miséria total. Culpa dos pais, do país ou da Legião? Não, do próprio Rocha.

"Billy" ou "Negrete" no auge. Foto do "Que País é Este 1978/1987"

A matéria foi super mal produzida, teve várias informações erradas (disseram por exemplo que Rocha é co-autor de “Eduardo e Mônica" e ele não é. A faixa é do Renato Russo que ainda gravou todos os instrumentos da faixa... Record né?) e tentou levantar polêmica com Rocha perguntando: “como pode um disco vender 12 milhões de cópias e eu viver na rua?” Do mesmo jeito que no auge ele pôde comprar 8 (!) Harley Davidson e hoje não ter nada. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A Record também apelou ao “plantar” um falso fã pra pedir o autógrafo do Rocha na capa do “Que País é Esse 1978/1987” (acreditem ou não, esse encarte estava em cima da minha cômoda na semana anterior ao programa... fiquei lendo e analisando a obra... doideira minha!).

Não sei o real motivo da saída dele da Legião, mas fato é que isso aconteceu em 1989! E tudo que aconteceu depois (e talvez até antes) é culpa do Rocha. De todos os integrantes Rocha era talvez o menos favorecido financeiramente (o pai hoje é um advogado em um escritório humilde) e intelectualmente. E gostava da farra (“Eu e o Renato Russo só queríamos saber de cheirar cocaína e beber”), queria se misturar com o Russo, mas não segurava a onda e perdia os compromissos. Talvez Russo gostava dele nas farras porque ele dava a atenção que Bonfá e Dado não davam... talvez porque era mais manipulável... talvez por ser mais maluco... vai saber.

Nos depoimentos colhidos no começo da carreira, e colocados depois em Riding Song - clique aqui e veja. Já dá pra sacar que Rocha tinha pré-disposição a se perder. Russo fala que gostava de jornalismo e trabalhava com 17 anos, Dado fala que entrou na faculdade de sociologia, Bonfá que terminou o segundo grau e Rocha fala que parou de estudar. Já mostra que ele larga as coisas pela metade e não estava muito aí...

Toda e qualquer pena acaba quando você vê o pai do cara falando que tentava o aconselhar no auge e ele respondia: dinheiro é pra gastar. Já vi de perto gente que perde a referência de certo e errado quando tem contato com álcool ou entorpecentes. É um padrão. São pessoas que se entregam pro vício e acabam culpando a tudo e a todos pela sua situação (como no comentário dele que vou citar) e depois de um tempo, com a mente já debilitada e conformada, tem vagas lembranças e cita fatos com carinho (como na matéria). Na matéria de domingo ele foi ameno, mas há 10 anos (antes de estar tão debilitado) ele deu declarações ácidas: Segundo ele, Russo “era um chato que vivia em crise”, Dado “um cara muito egoísta” e Bonfá “uma pessoa de personalidade fraca”. Dado e Bonfá nunca entraram em polêmica e jamais comentaram qualquer declaração dele. Longe de mim julgar Rocha ou a Legião... eles que se entendam juridicamente. Estou só divagando sobre a situação atual do Rocha.

O momento mais triste da entrevista foi quando ele pegou o baixo... pensei: “toca cara! Alguém vai te dar uma força...”. E ele literalmente não sabia direito o que estava fazendo ao tentar tocar “Ainda É Cedo”. Ali vi que realmente o cérebro do cara está destroçado... e fiquei chateado pelo ser humano que um dia foi o artista que ajudou a escrever essa música.

Segundo o pai de Rocha, a mãe dele morreu e talvez ele nem saiba... não quero comparar com o Russo, mas Russo morreu pedindo pra que o pai o aceitasse. Russo fazia o que fazia, mas se arrependia e tentava viver "Um Dia Perfeito"... Rocha só via e vê alívio no momento da loucura... por isso não se importou de verdade quando saiu da banda. Ninguém ouviu falar dele enquanto ele ainda tinha dinheiro. Estava bem ocupado gastando com a loucura...

Fica a lição de que é preciso conhecer e respeitar seus limites, ser racional e rejeitar os prazeres de vez em quando (ou de vez em sempre se você é doente) e principalmente: valorizar a família. Deixando a mente e o coração aberto, pra que quando algum ente querido falar algo, isso entre e te dê uma “acordada”. Se você não assume as conseqüências e não deixa essa porta aberta pro bem, o perigo é grande. Escrevi algo assim em “Caminhos Pra Voltar”:

clique aqui e veja o vídeo!


Se por acaso eu me perder
Me mostre meu amor
Eu posso esquecer
Mas não posso esquecer
Os caminhos pra voltar

Eu nunca precisei que esses ícones chegassem ao fundo do poço pra ter noção de onde o ser humano pode chegar. Já vi muito isso no meu círculo de convivência. É preciso ficar alerta... pra não ser um castrado/dominado pela sociedade e muito menos pra virar desvairado e no final quem sabe, um morador de rua.

Fica a tristeza de ver o artista que ajudou a escrever “Ainda É Cedo”, “Daniel na Cova dos Leões”, “Quase Sem Querer”, “Acrilic On Canvas”, “Plantas Embaixo do Aquário”, "Angra dos Reis", “Mais Do Mesmo” e ainda fez o arranjo em “A Dança”, ter chegado a esse ponto. Mas fica a torcida pra que ele se reencontre com quem ele é desde o nascimento: Renato da Silva Rocha. Porque talvez ter sido Billy ou Negrete tenha sido uma das piores coisas na vida dele. Mas ainda há tempo. Que ele se ajude!

um ser humano que precisa lembrar que é Renato da Silva Rocha

Um morto pela AIDS, um tentou virar produtor, outro batalhou com seu trabalho autoral e agora Renato Rocha na rua... esse é o saldo das pessoas que formaram a minha amada Legião. 

Mas obra é eterna e imaculada.


Amo! Faz falta...


E hoje vejo que realmente eu cresci.


Rafael Corrêa

4 comentários:

  1. Bárbara sua forma de descrever a tragédia do cara, mas analisando o fundo da questão.. não com o sensacionalismo que a Record tratou....Parabéns, aliás.. é de praxe, sua sensibilidade é além da musical! (fico no aguardo de vê los amanhã, aqui na minha Porto Feliz).. Sabrina

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  2. Valeu demais! É bom (e doloroso também) pensar!

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  3. Realmente foi um grande baixista, podia ter feito o "4 Estações" um disco épico, mas no fundo, o que ele parece ter, além de problemas financeiros, são problemas mentais. Repete a história do Syd Barrett

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