sábado, 29 de julho de 2023

Barbie, Mattel e a exploração da dicotomia

Não é a primeira e nem a última vez que farão um filme sobre um brinquedo ou jogo... tudo bem. Faz parte.
A indústria quer ganhar e quem quiser que pague e assista.
Em países livres, cada um por si.

Talvez a grande confusão e a razão dos conflitos estejam no uso do nome da boneca mais vendida da história... por exemplo: imaginemos que há uma história boa, mas muito boa mesmo, sobre um mundo de bonecas/os e alguns figurões de Hollywood decidem filmar... muito provavelmente nem seria necessário o uso da marca em questão ou de qualquer outra.

O filme aconteceria e, muito provavelmente, talvez até vendessem bonecos sobre o filme. (Como aconteceu em obras como Star Wars, onde a maior parte do lucro veio da venda de produtos relacionados com o filme... George Lucas, na época, acertou em ficar com esses direitos. Ninguém dava a mínima.)

Aí sim poderíamos levar em consideração argumentos como "É um filme para adultos", "empodera" e tantas outras frases que tentam validar a obra como além de algo infantilizador/oportunista/comercial.
Mas no contexto colocado me parece meio estranho...

Pelo que me lembro já vi matérias que constataram que é impossível ter um corpo como a da boneca... num mundo cheio de novos desafios e novas lutas por aceitação e afins, soa estranho a marca entrar com tanta potência no universo cinematográfico e com tanta gente defendendo (ou criticando) a obra.

O que, PRA MIM, parece óbvio que está sendo usado na divulgação é a exploração da dicotomia no mundo atual: esquerda X direita, conservadores X progressistas.

Do nada um monte de desocupados conservadores (como o tosco do Ratinho) estão descendo o pau no filme.
(Eles descem o pau em tudo.
Tem gente que acreditou em mamadeira de piroca... mas não questionam mansões compradas com dinheiro vivo, não questionam a intenção de colocar o filho como embaixador... enfim.)
Aí algum perfil gaiato (e ganhando) faz um print disso e do nada um monte de gente fica no frisson de assistir pra confrontar os conservadores... do nada têm o aval que precisavam pra justificar a ida ao cinema.
E já fica difícil tecer qualquer crítica à obra: afinal você instantaneamente viraria aliado dos conservadores.
(Assim como criticar o Dória, que era BolsoDória na eleição e um grandessíssimo traste desde sempre, te transformava em aliado da direitona...
E curtir a Globo, o Bonner e o BBB estava liberado. Afinal agora "estavam do nosso lado".
Falsa simetria e indignação seletiva na caruda.)

Estou vendo de fora e repito: não há qualquer juízo de valor da minha parte. Até porque não assisti.
Só acho estranho e interessante a maneira que as coisas se desenrolam nos dias atuais... assista, não assista. Vai fundo.

Mas não acredito que uma obra do cinemão de Hollywood com um produto bilionário da Mattel possa realmente estar fazendo crítica a isso ou aquilo.

Jamais saberemos exatamente, mas depois seria interessante ver como as vendas de bonecas se comportarão daqui pra frente.
Ver quais modelos serão lançados talvez baseados no filme. Não sei.

O doido é pensar que houve uma época em que se orgulhavam de ver as meninas brincando com tudo, menos com boneca.
Me lembrei da atriz Taís Araújo toda chateada porque a filha gostava de brincar de casinha e de boneca.
Palavras dela na época: "Foi ali que chegaram as primeiras bonecas, não sei quem deu, não me lembro, mas me lembro com perfeição quando ela, com um ano de idade, pegou uma boneca no colo e ninou. Fiquei muito espantada, mas sabia que ela estava reproduzindo o que fazíamos com ela, mas e as princesas? Pode ser influência das amiguinhas. E a cor rosa? E a predileção por saias e saias que rodem? E a paixão por panelinhas e fogão? E o ferro e a tábua de passar, minha gente?!".

E agora a boneca voltou com tudo ao consciente coletivo, pra gostosamente reinar (de novo) no inconsciente.

Há muito do inconsciente coletivo em tudo isso.
Vi a galera brincando de ser uma Barbie (usando rosa e tirando fotos como se estivessem numa caixa)... talvez toda mulher com certa condição já teve uma boneca dessa. É algo que transcende o meu entendimento...

Me lembro do filme G.I. Joe nos cinemas e nenhum tipo de marketing tão agressivo.
Talvez porque já tivemos o desenho animado dos Comandos em Ação... talvez porque não havia algo que mexesse com o subconsciente... não sei. E não imagino a galera indo ao cinema com farda... outros tempos, outros temas.

Se eu vou assistir ou não?
Quando estiver no Netflix posso até dar uma olhada.
Até lá só observarei o poder da indústria, do marketing e da exploração da dicotomia.

A coisa é tão complexa que o Governo de SP, do PR, do MA, o PC do B, o Senado Federal, a governadora do RN Fátima Bezerra e outras instituições e agremiações usaram o filme em suas postagens... tudo pra estar moda? Propaganda gratuita? Propaganda paga? Quem controla as assessorias e as agências de publicidade?
No fim nossas autoridades, estados e instituições estão curvadas ao sistemão e ao hype norte-americano de Hollywood.
(Por mais que a própria Academia finja pluralidade entregando um Oscar aqui e ali para filmes e diretores/as estrangeiros, o que manda é Hollywood...) 

             Nem o Governo de SP escapou

Lu Alckmin postou foto de rosa.
Depois a Janja e a ministra da saúde postaram foto com roupa cor de rosa...

De um lado os eternos verde-amarelos (sem a menor noção da origem dessas cores na bandeira, e sem o menor amor pelo país... tudo numa tentativa de sequestrar pra si as cores da pátria, sinalizando falsa virtude) e agora o rosa do outro... tudo num sistemão que se retroalimenta.

Perceba que o texto possui muitos "talvez".

E é só um devaneio.
Faça o que te der na telha e seja feliz.

Na dúvida fico com Orwell:
"...os inimigos imediatos da verdade, e portanto da liberdade de pensamento, são os barões da imprensa, os magnatas dos filmes e os burocratas,..."
(A prevenção contra a literatura, 1945/1946)