terça-feira, 12 de setembro de 2023

"Mais gols de c... é rôl...."

Tudo é marketing e os sheiks (antes os donos do PSG e agora os lá de Riade) têm que ter o retorno do seu investimento... dito isso me parece óbvio que Neymar ainda atrapalhará a seleção brasileira em mais um ciclo.

Mas essa polêmica sobre os gols é meio absurda... parabéns pelos gols e pela marca, mas não há sentido na exaltação disso.
Pelé tem 12 gols em Copas do Mundo, 9 assistências. 3 gols em finais. 3 títulos.
Ronaldo tem 15 gols Copas do Mundo, 3 assistências. 2 gols em uma final. 2 títulos.
Jairzinho marcou em TODOS os jogos da Copa de 1970.
Garrincha foi vital em 1962... (Copa que Pelé mal jogou.)

             Quando o que valia era futebol.
   Com os 2 em campo o Brasil nunca perdeu.


Enfim... claro que gol não tem peso, mas qual o peso desses gols?
Neymar 1 gol em um jogo de quartas-de-final e só.

Quartas de final com Neymar

2014: Brasil 2x1 Colômbia [0 gol - gols do Thiago Silva (chorão que amarelou na disputa de pênaltis contra o Chile nas oitavas e foi amarelado não disputando a fatídica semifinal) e David Luiz
2018: Brasil 1x2 Bélgica (0 gol - gol do Renato Augusto)
2022: Brasil 1 (2)x(4) 1 Croácia (1 gol)

Digo isso porque hoje em dia tudo é por alguns segundos em stories e postagens e lances plásticos que dão a impressão de que estamos diante de semideuses do esporte (na música também acontece isso, já chego lá)... jamais se vê o contexto inteiro.
Por isso fica essa celebração inócua. Coisa de agência de propaganda e empresas que querem vender seus astros.

Neymar pode marcar 100 gols que dificilmente terá a relevância de ícones do passado.
Talvez seu gol mais importante na seleção brasileira de futebol masculino tenha sido o anotado na final olímpica em 2016.
Por sinal o seu único título relevante com essa camisa.
Porque, queiram ou não, na conquista da Copa América de 2019 ele não estava (após aquele incidente lamentável em Paris) e também não estava na conquista do 2° ouro olímpico na Tokyo 2020 (onde tivemos aquele incidente ridículo na entrega da medalha de ouro... os milionários brasileiros sabotagem o patrocinador dos agasalhos e dos atletas e amarraram o agasalho na cintura pra honrarem o patrocinador da seleção... ridículo).

Enfim. Atualmente se fala em números, estatísticas, cifras e afins pra que se honre a ou b e se esqueça de c e d.

Exemplos:
O tal Drake supera um número a ou b e todos exaltam... como se isso fizesse dele alguma coisa perto dos Beatles ou do Michael Jackson.

Na EuroCopa 2020 Portugal caiu nas oitavas e, ainda assim, todos só falavam CR7, CR7, CR7.
Poucos sequer sabem quem fez a final.

Anitta, supostamente, chega em 1° lugar no Spotify com uma letra em espanhol e todos celebram "O Brasil em 1°".

A Argentina vence a Copa com um treinador competente, alguns jovens voando, Di Maria agudo na final, o goleiro fazendo milagre no último segundo e o mundo só pensa e fala em Messi, Messi, Messi.

São bizarrices que cansam quem pensa um pouco.

Números hiperinflados sobre celebridades a ou b, fortunas de sub-celebridades c e d, valores estratosféricos sobre o medíocre x ou y.

Tem que interessar se o cara joga e é (ou foi) decisivo.
Se o artista faz uma música decente (não no contexto de decência, no contexto de boa, de com um mínimo de substância).

O resto é idiotice e tolice pra alienar, achar que os ídolos do passado não são nada e pra nós empurrar influenciador a ou b.
São uns ridículos.

Há tempos que deixei de seguir vários.
Não há sentido, não há porquê. Não me importa pequenos enquetes ou sacadas de gente sem talento pra algo além de 30 segundos. Humor não é isso.

Aconselhamento também. Quem é essa gente na ordem do dia?

Um bando de pé-de-boi que sabe editar vídeo?

Passou da hora de nos libertarmos disso.
Bom, mas quem sou eu pra falar "nos libertarmos". Passou da hora de eu me libertar.

Não me interesso por quantos milhões o cara ganha por dia. (Não receberei um centavo.)
Por quantos gols fez em amistosos e contra seleções sofríveis. (Não soma nada.)
Qual o helicóptero do cidadão. (Sem comentário.)

Quero saber se posso numa época de Copa do Mundo, momento importante pro país, pro comércio, para as celebrações, posso ter um mínimo de alegria e orgulho de torcer...

Enfim. Quem sou eu poderão perguntar alguns.
Sou um Zé Cu. Mas sou um Zé. Tenho CPF. Sou cidadão da República.
No meu cérebro, por enquanto, mando.

Obrigado pela atenção.

Abraço.

(Me contrate pra tocar 🙏🏻)
11 982483056 

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Brasil está fora da Copa do Mundo Feminina

Após tantas comparações, non-sense, com a seleção brasileira de futebol masculino, a seleção brasileira de futebol feminino caiu já na primeira fase. Minha expectativas se confirmaram.
(Comparações irreais já que a própria CBF colocou uma camisa sem estrela e lançou até a campanha "Pela primeira estrela".)

                       Bem antes do jogo....


Não adianta discurso choroso da Marta ou a Pia falando em inglês. Acabou.

Vi muita gente tripudiando e muita gente defendendo só pra provocar.
A dicotomia rolando solta.

Se há alguma comparação a fazer é que pouquíssimas vezes a seleção masculina foi além quando houve badalação e altas expectativas. Em 1994 e 2002 o time saiu desacreditado e foi crescendo até o título.
A própria medalha de ouro inédita em 2016 não era esperada.

Com as moças, infelizmente, houve hype, provocação, expectativas exageradas (porque o 2° tempo que vi hoje, juntamente com os jogos da Rio-2016 foram horrendos) e tolices.

Já fomos prata e vice-campeãs mundiais. Quando quase ninguém dava a mínima. E agora isso.
Tem que renovar geral.

E antes de pensarmos em ponto facultativo e comparação de gols do feminino com o masculino, temos que vencer seleções frágeis e retranqueiras como a Jamaica.
Ou fica só esse burburinho eterno, só pela polarização, que não cativa o torcedor real.
Só alimenta o provocador e o revoltado.

Que pena.

(Cristiane Rozeira fez falta e foi justificada.)

#selecaobrasileirafeminina #selecaofeminina #copadomundofeminina #CopaFeminina #Pia #Marta #Cristiane #Debinha #CBF #Brasil #Jamaica #BrasilxJamaica #CristianeRozeira #CristianeJogadora

sábado, 29 de julho de 2023

Barbie, Mattel e a exploração da dicotomia

Não é a primeira e nem a última vez que farão um filme sobre um brinquedo ou jogo... tudo bem. Faz parte.
A indústria quer ganhar e quem quiser que pague e assista.
Em países livres, cada um por si.

Talvez a grande confusão e a razão dos conflitos estejam no uso do nome da boneca mais vendida da história... por exemplo: imaginemos que há uma história boa, mas muito boa mesmo, sobre um mundo de bonecas/os e alguns figurões de Hollywood decidem filmar... muito provavelmente nem seria necessário o uso da marca em questão ou de qualquer outra.

O filme aconteceria e, muito provavelmente, talvez até vendessem bonecos sobre o filme. (Como aconteceu em obras como Star Wars, onde a maior parte do lucro veio da venda de produtos relacionados com o filme... George Lucas, na época, acertou em ficar com esses direitos. Ninguém dava a mínima.)

Aí sim poderíamos levar em consideração argumentos como "É um filme para adultos", "empodera" e tantas outras frases que tentam validar a obra como além de algo infantilizador/oportunista/comercial.
Mas no contexto colocado me parece meio estranho...

Pelo que me lembro já vi matérias que constataram que é impossível ter um corpo como a da boneca... num mundo cheio de novos desafios e novas lutas por aceitação e afins, soa estranho a marca entrar com tanta potência no universo cinematográfico e com tanta gente defendendo (ou criticando) a obra.

O que, PRA MIM, parece óbvio que está sendo usado na divulgação é a exploração da dicotomia no mundo atual: esquerda X direita, conservadores X progressistas.

Do nada um monte de desocupados conservadores (como o tosco do Ratinho) estão descendo o pau no filme.
(Eles descem o pau em tudo.
Tem gente que acreditou em mamadeira de piroca... mas não questionam mansões compradas com dinheiro vivo, não questionam a intenção de colocar o filho como embaixador... enfim.)
Aí algum perfil gaiato (e ganhando) faz um print disso e do nada um monte de gente fica no frisson de assistir pra confrontar os conservadores... do nada têm o aval que precisavam pra justificar a ida ao cinema.
E já fica difícil tecer qualquer crítica à obra: afinal você instantaneamente viraria aliado dos conservadores.
(Assim como criticar o Dória, que era BolsoDória na eleição e um grandessíssimo traste desde sempre, te transformava em aliado da direitona...
E curtir a Globo, o Bonner e o BBB estava liberado. Afinal agora "estavam do nosso lado".
Falsa simetria e indignação seletiva na caruda.)

Estou vendo de fora e repito: não há qualquer juízo de valor da minha parte. Até porque não assisti.
Só acho estranho e interessante a maneira que as coisas se desenrolam nos dias atuais... assista, não assista. Vai fundo.

Mas não acredito que uma obra do cinemão de Hollywood com um produto bilionário da Mattel possa realmente estar fazendo crítica a isso ou aquilo.

Jamais saberemos exatamente, mas depois seria interessante ver como as vendas de bonecas se comportarão daqui pra frente.
Ver quais modelos serão lançados talvez baseados no filme. Não sei.

O doido é pensar que houve uma época em que se orgulhavam de ver as meninas brincando com tudo, menos com boneca.
Me lembrei da atriz Taís Araújo toda chateada porque a filha gostava de brincar de casinha e de boneca.
Palavras dela na época: "Foi ali que chegaram as primeiras bonecas, não sei quem deu, não me lembro, mas me lembro com perfeição quando ela, com um ano de idade, pegou uma boneca no colo e ninou. Fiquei muito espantada, mas sabia que ela estava reproduzindo o que fazíamos com ela, mas e as princesas? Pode ser influência das amiguinhas. E a cor rosa? E a predileção por saias e saias que rodem? E a paixão por panelinhas e fogão? E o ferro e a tábua de passar, minha gente?!".

E agora a boneca voltou com tudo ao consciente coletivo, pra gostosamente reinar (de novo) no inconsciente.

Há muito do inconsciente coletivo em tudo isso.
Vi a galera brincando de ser uma Barbie (usando rosa e tirando fotos como se estivessem numa caixa)... talvez toda mulher com certa condição já teve uma boneca dessa. É algo que transcende o meu entendimento...

Me lembro do filme G.I. Joe nos cinemas e nenhum tipo de marketing tão agressivo.
Talvez porque já tivemos o desenho animado dos Comandos em Ação... talvez porque não havia algo que mexesse com o subconsciente... não sei. E não imagino a galera indo ao cinema com farda... outros tempos, outros temas.

Se eu vou assistir ou não?
Quando estiver no Netflix posso até dar uma olhada.
Até lá só observarei o poder da indústria, do marketing e da exploração da dicotomia.

A coisa é tão complexa que o Governo de SP, do PR, do MA, o PC do B, o Senado Federal, a governadora do RN Fátima Bezerra e outras instituições e agremiações usaram o filme em suas postagens... tudo pra estar moda? Propaganda gratuita? Propaganda paga? Quem controla as assessorias e as agências de publicidade?
No fim nossas autoridades, estados e instituições estão curvadas ao sistemão e ao hype norte-americano de Hollywood.
(Por mais que a própria Academia finja pluralidade entregando um Oscar aqui e ali para filmes e diretores/as estrangeiros, o que manda é Hollywood...) 

             Nem o Governo de SP escapou

Lu Alckmin postou foto de rosa.
Depois a Janja e a ministra da saúde postaram foto com roupa cor de rosa...

De um lado os eternos verde-amarelos (sem a menor noção da origem dessas cores na bandeira, e sem o menor amor pelo país... tudo numa tentativa de sequestrar pra si as cores da pátria, sinalizando falsa virtude) e agora o rosa do outro... tudo num sistemão que se retroalimenta.

Perceba que o texto possui muitos "talvez".

E é só um devaneio.
Faça o que te der na telha e seja feliz.

Na dúvida fico com Orwell:
"...os inimigos imediatos da verdade, e portanto da liberdade de pensamento, são os barões da imprensa, os magnatas dos filmes e os burocratas,..."
(A prevenção contra a literatura, 1945/1946)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Pelé, tetra e penta campeões e a ALIENAÇÃO geral

                        
Existe sim a inveja de muitos dos jogadores que jamais foram uma nesga do que foi o Pelé.

Existe também a raiva dos muitos que foram criticados por ele.

Existe a soberba dos que ganharam seus milhões e não dão a mínima para nada e nem pra ninguém.
O futebol foi um trampolim para o dinheiro e fim.
"O que o mundo tem a ver com o que eu faço da minha vida?".

Eu poderia dar mais exemplos.

Mas essa história mostra algo que já rola há tempos nos nossos planos pessoais e essas situações provam que a coisa é global: a ALIENAÇÃO.
De alguma maneira muitas pessoas não dão a mínima pra nada. Creio que nem por maldade.

Na Sociologia, o conceito de alienação está intimamente relacionado aos processos de alheamento do indivíduo que surge por diversos motivos na vida social. Isso leva ao alijamento da sociedade como um todo.

O estado de alienação interfere na capacidade dos indivíduos sociais de agirem e pensarem por si próprios. Ou seja, eles não têm consciência do papel que desempenham nos processos sociais.

Do latim, a palavra “alienação” (alienare) significa “tornar alguém alheio a alguém”. Atualmente, o termo é utilizado em diferentes áreas (direito, economia, psicologia, antropologia, comunicação, etc.) e contextos.

Repetindo: "O estado de alienação interfere na capacidade dos indivíduos sociais de agirem e pensarem por si próprios. Ou seja, eles não têm consciência do papel que desempenham nos processos sociais."

Não há mais consciência dos processos sociais.
Apenas a ânsia de stalkear e/ou postar nas redes sociais.

Não é necessário visitar um bebê. Um like numa foto e está tudo certo.

Não é necessário justificar uma ausência ou uma "gelada" na cara dura em uma mensagem (algo que necessitaria de alguns míseros cliques pra responder). Uma postagem com uma homenagem fajuta e beleza.

Não é necessário uma ação social que acabe realmente com a fome ou o frio de alguém. Um compartilhamento sobre alguma campanha e já fiz a minha parte.

Pra que adotar um animal de rua? Compartilhar o post de um amigo já faz a vez.

Ser gentil, se preocupar minimamente, ter senso? Pra que!? Uso e abuso quando quero e é vida que segue.

E por aí vai.

Talvez tenhamos que buscar um contato maior com o real. Com a natureza. Com os nossos pais e/ou avós. Com gente necessitada.
Pra que assim possamos voltar a entender o que é o que.

Muita gente perdeu a referência e vê as pessoas meio que como nada.
O trabalho como uma passagem pra outra coisa.
A família como algo que apenas está ali.
E a vida passa.

(Só um adendo: em fevereiro de 2022, na final do Mundial do Palmeiras agora, eu estava num evento e do nada vi um cara perto de onde eu estava e ele falou que era palmeirense.
Meio que não estava nem aí para o jogo. E eu tocando e meio que ouvindo o jogo.
Daí eu ouvi algo como: "Tem que ganhar pra acabar com as piadas".

E continuou por ali tomando uma.

Algo bizarro. Um exemplo dessa alienação e dessa apatia atual.
Me lembro da zona que aprontamos em 1992, 1993 e 2005... não é algo que acontece sempre... mas estávamos vivos. Bem longe dessa apatia e dessa alienação atual.
Voltando...)

É a pessoa que vai pra um encontro e fica de olho no celular.

Muitos de nós somos os caras do tetra e do penta.
Meio que sem saber de onde viemos, o que somos e qual a nossa relação com a sociedade.

Longe de mim cagar regra... mas existem protocolos sociais sim. Mas precisamos entender, de novo, isso.
E atualmente explicar isso me parece uma tarefa hercúlea.

Há uma frase na música Not For You do Pearl Jam que diz o seguinte:
🎵 Não dá pra escapar das regras comuns
Se você odeia alguma coisa, não faça você também 🎶

Não dá pra dizer que esse processo de alienação vem apenas pela Internet, mais especificamente das redes sociais.
Sim. Elas têm um peso absurdo.
Mas por elas que estamos interagindo agora, nesse exato momento. Têm o seu valor.

A alienação pode ser fruto da fragilidade da vida explicitada pela pandemia, pode ser fruto de uma sociedade mais abastada (existem dificuldades, mas a vida hoje é bem mais fácil do que antes), pode ser pela falta de perspectiva como ser humano num mundo sem cultura e sem heróis que possam nos representar... não sei.

Mas precisamos de algo a mais pra acordarmos e vivermos de verdade.

Algo que faça com que você, como diz o nome do terceiro álbum do Oasis, ESTEJA AQUI AGORA.
Com que estejamos aqui agora.

Uma coisa é verdade: o povão estava lá.
O povo está em outra. E isso é bom.
Deixa um mínimo de alento.

Em muitos setores ainda há o senso. Ainda existe consideração. Existe um mínimo de gana.

Abraço e obrigado pela leitura.

Atenciosamente,

Rafael.

imagem: Melancolia (1891) de Edvard Munch
óleo sobre tela
Melancholy
norueguês: Melankoli




terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Futebol e a sociedade

"Quem se aliena de si próprio não é capaz de moldar a história a seu favor, mas será moldado pelos demais, e a preponderância do azar é a consequência dessa passividade."
(Felipe Quintas) 

Futebol e a sociedade 

De 94 a 2002 chegamos em 3 finais e ganhamos duas das três. 

(É uma geração de respeito também. Assim como os que de 58 a 70 ganharam 3 de 4 Copas.) 

Principalmente o time de 1994 que tirou o Brasil de um jejum de 24 anos. 


Pergunte pra qualquer um: as pessoas sabem mais do time de 1994 do que do de 2002. Talvez pela secura, talvez pelo bom horário dos jogos... 

Foi um time que teve se fechar em torno de um projeto. 
Um time que tinha um esquema tático bem definido e um meio de campo que protegia demais a defesa. 
Esse time tomou apenas 3 gols na Copa. 

Não tinha brincadeira. Os jogadores entravam de mãos dadas. Concentrados. Muitos estavam em 1990 e queriam acabar com o estigma da tal "Era Dunga". 
Já disse o PIL em "Rise": "Anger is an energy!!!".
Havia a humilhação. A vergonha. A raiva. Não por acaso quando pegou a taça Dunga explodiu: "Ganhamos essa porra!". 

Com muito mais vigor do que o celebrado, multi-milionário, funcionário do Emir do Catar e com uma roupa dada pelo próprio dono do país e do PSG. 
Sem zueira: torci pela Argentina (por ser contra a França) mas após o jogo não senti nenhum vigor na comemoração. 
Tipo o Dunga xingando, Romário já pegando a taça ou o Cafu improvisando e subindo no púlpito e escrevendo na camisa... enfim voltando: 

Parreira colocou Dunga no mesmo quarto que Romário pra colocar um mínimo de disciplina na cabeça do atacante.
Romário jamais fugiu da responsabilidade: saiu daqui falando que se perdessem a culpa seria dele. 
Tinham foco... lembro do filme oficial da Copa: "Todos os Corações do Mundo", que aliás fomos assistir no cinema, mostrando o túnel antes da final. 
Baggio encara Romário que não vira o rosto um centímetro para o lado. Foco.
(Um detalhe: vendo no cinema por ângulos bem doidos, mesmo sabendo dos resultados, dava a impressão de que podia sair algum gol... maluquice, eu sei. Ou medo após 24 anos de jejum... sei lá.) 

O Brasil não tinha mais nenhum respeito. 
Se Mbappé debochou da América do Sul em maio agora, na época Lothar Matthäus debochou do Brasil falando que era um time que jogava bonitinho, fazia alguns dribles e gols bonitos mas que não teria como vencer a Copa (talvez lembrando da geração de 1982). Lembro na comemoração no ônibus o Parreira mostrando a taça pra câmera e falando: "Oi Matthäus!". 
(Detalhe: não precisamos de pênalti roubado após levar ferro em duas finais como os alemães...)

Havia uma raiva, uma esperança, um foco. Na seleção e no país. 

Senna havia morrido, o Real tinha sido implantado pra conter a hiperinflação (Galvão até falava: "Valorize o seu Real, os preços vão baixar!), bem ou mal vivíamos sob um governo eleito pelo povo, após 21 anos de ditadura, afinal Itamar era vice do Collor e todo mundo acreditava em dias melhores. 

O SPFC (sem clubismo) havia mostrado que era possível chegar ao topo do mundo derrotando o poderoso Barcelona de Koeman (que estava nas quartas de 1994) e Stoichkov (búlgaro, um dos destaques da Copa) em 1992 e o Milan em 1993. O Milan era meio que a base da seleção italiana de 1994. 
Já conhecíamos Massaro (que teve o pênalti defendido por Taffarel) e outros.
Telê e Cerezo já haviam sido justificados. 

Havia uma esperança. Não era impossível vencer. 

Nos campos, na sociedade e na vida. 

Hoje em dia fica a pergunta: estamos lutando (jogando) pelo que? 

Estamos como essa seleção. Sem uma motivação real. 
Com nossas dancinhas para o TikTok, comendo nossas carnes mais caras, fazendo intervenções estéticas pra lá de fúteis, com televisores de 100 polegadas que parecem cada vez menores e completamente sem identificação com nosso passado e/ou realidade. 

Antes havia prazer numas linguiças, numa macarronada, num casamento com aquelas maravilhosas batatinhas em conserva e cerveja com gelo e serragem (pra conservar o gelo) num tambor e água no outro pra lavar a garrafa e o antebraço.
Havia prazer em assistir numa TV de 14 polegadas. O fato de ser colorida já era algo a ser celebrado.
Hoje nada dá prazer pra muitos. 

Quando somos postos à prova, mesmo vencendo, não aguentamos a pressão e mostramos nossa fragilidade escolhendo mal e desabando.
Como o Brasil com a Croácia. Com gol faltando 4 minutos e com pênaltis bem mal batidos. 

Veja os pênaltis de 1994 contra a Itália e 1998 contra a Holanda. Foco, força, segurança.
De alguma maneira, a seleção brasileira é um espelho do país. 
Gente que não quer ficar aqui, que não se identifica com o país, mas que sequestraram a camisa amarela e a própria bandeira nacional. 

Gente que ajuda o filhão colocando em um bom posto, sem pensar em nada.
Gente que vira as costas e sai correndo quando dá tudo errado. (Tite) 

Dava pra fazer mais analogias, mas está bom.
Vejamos como nos comportaremos como nação no próximo ano. 

Pensando bem, isso meio que se reflete na seleção. 

Pirei um pouco, mas não muito. 

Cito mais uma vez o Felipe Quintas, que me inspirou a escrever esse texto:
"Não acho que o problema brasileiro de hoje seja técnico, econômico ou o que seja. No futebol, nosso time era de longe o mais habilidoso de toda a Copa, e recursos não faltavam. No Brasil em geral, a mesma coisa. Temos tudo, mas nos falta o essencial: ser. Ser brasileiro. Ser o melhor de nós mesmos. Quando o Brasil é brasileiro, coloca o mundo a seus pés, como colocou no tricampeonato. Quando não é, se torna mais um, e a mediocridade, que é virtude para países menores, para nós, gigantes pela própria natureza, é a doença que nos abate e nos derrota."

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Carne folheada a ouro, patrulhamento, hipocrisias e a insuportável dicotomia

O que é luxo?

Uma canelada: particularmente não vejo muito sentido nesse patrulhamento sobre os atletas e ex-atletas da seleção brasileira de futebol masculino e a tal carne com ouro.

                         pecado mortal 

Esses caras são multi-milionários. Com certeza têm muito mais extravagâncias do que esse prato.
Bebidas.
Relógios.
Objetos de decoração.
Carros.

Do nada, cria-se um furor por algo que rola adoidado... e que rolou num país onde a ostentação é quase que parte do inconsciente coletivo.

A fome é algo brutal, não há dúvida.

Mas não há sentido nesse patrulhamento.

Me lembro de quando surtaram pelos vinhos do Zé Dirceu.
Agora falam do relógio do Lula.
Alguns falam da conversa do Bolsonaro sobre Jet Ski.
(Se não entendeu a citação dessas figuras apenas como exemplificação da dicotomia e da indignação seletiva, e vier defender a ou b, será bloqueado)

Temos que tomar cuidado porque, do nada, podem achar que os seus pequenos luxos também são uma extravagância, uma excentricidade.

Ir a um restaurante ou uma churrascaria normal é lícito ou também é luxo?
De repente você podia doar o valor daquela refeição pra debelar a fome (mesmo que momentaneamente) de algumas pessoas.

Brindar com uma espumante mais cara é lícito ou também é luxo?
De repente você podia doar o valor daquela espumante pra debelar a fome de algumas pessoas.
E talvez só brindar com uma espumante bem baratinha. Ou nem isso.

E aquela sua viagem? E aquela roupa? E aquela TV nova?

Enfim... vocês entenderam.

⚠️Longe de mim defender milionário, mas não dá pra achar que um luxo resolveria o problema da fome.
É tosco? Obviamente.
Mas não menos tosco do que o Ronaldo no motel com travestis. (Digo pelos gastos... não dou a mínima pela opção sexual)
Não menos tosco do que a tatuagem anal da Anitta. (Digo pelos gastos... não dou a mínima pela região tatuada)
Ou a Lamborghini rosa da Melody.
Não menos tosco do que a fachada da casa do Gusttavo Lima.
Ou talvez a coleção bilionária de carros do Nick Mason (Pink Floyd).
Ou a coleção de motos do Keanu Reeves.
Não menos tosco do que mil coisas... tem o helicóptero do Neymar com a logomarca.
O triplex dos Marinho donos da Globo.

Enfim...

Debelar a fome é uma obrigação do Poder Público.
Criar consciência social também. Com a ajuda da sociedade.
Sócrates sonhava em mudar a mentalidade dos atletas.

Penso que se houvesse identificação com os atletas da seleção, muito provavelmente não haveria tanta falação.
Talvez até houvesse uma brincadeira, um carinho pelo ex-meninos pobres que "venceram" na vida.

Mas não. Há um ressentimento. A CBF é um antro.
Ronaldo apoiou Aécio.
Parte dos caras é bolsonarista... aí fica esse papo.

Bilionário não deveria existir. O Brasil tem 206... com R$1.200.000.000.000,00 de patrimônio.
Grandes fortunas devem ser taxadas. (Está na Constituição...

SEÇÃO III
DOS IMPOSTOS DA UNIÃO
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.)

O resto é, na minha visão, tontice.

Todo mundo gasta e tem seus luxos e luxinhos.

Muito pior do que jogador e essa tal carne de ouro, é político gastar R$157.000,00 em tratamento dentário (bem mal explicado) com tudo pago pela Câmara.
Aliás esse mesmo cidadão, pastor Marco Feliciano, fez tratamento estético à base de gel de ouro.



Mas isso foi em maio de 2014. 
Antes da reeleição da Dilma que deixaria esse país fraturado e com essa dicotomia insuportável.

Cuidado com a hipocrisia. Ou logo você também será julgado.

Fui.






quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Déficit Civilizatório

2.709.736 a mais em São Paulo 

"O esforço para depreciar quem pensa diferente é um déficit civilizatório" (Luís Roberto Barroso) 

Quando atacam (como em 2014) os nordestinos e o Nordeste, não atacam só aquela região do país e seus moradores... atacam também os 10.490.032 de compatriotas que, usando o seu direito garantido pelo Constituição de livre escolha, moram aqui no estado de São Paulo e votaram no adversário do candidato que apoiam. 

Na verdade atacam todos os outros 14.949.725 de votantes que votaram em outros candidatos, em branco e até nulo. 
Assim, atacam também a MAIORIA dos votantes daqui que não escolheram o candidato deles. 
Que é bem maior que eles... com 2.709.736 de votantes a mais. Não é pouca coisa.

Estão bem longe de uma de um pretensa hegemonia. Bem longe.

Deviam pensar mais. 
Deviam respeitar o processo democrático e as pessoas. 

"O esforço para depreciar quem pensa diferentemente é um déficit civilizatório. Quem pensa diferente de mim só pode estar mal intencionado ou com motivação indevida: é errada essa forma de pensar. Precisamos evoluir. Discutir o argumento e não a pessoa. É assim que se vive civilizadamente."
(Luís Roberto Barroso)