quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A esquina da feira

Durante anos trabalhei na feira livre.

Aos domingos era na frente dessa casa de esquina que ficava parte da banca onde eu trabalhava... bem em frente dessa placa de sentido obrigatório...

Era legal esperar alguns dos meus amigos da época que sempre passavam por ali após a missa... ficavam sentados/encostados no murinho (que ainda não tinha o portão) só falando besteirada... alguns comiam um pastel e falavam das meninas (90% dos assuntos era isso), de casos engraçados e sobre a noitada que viria... ia todo mundo na ADPM (milhares de jovens dançando os famigerados passinhos e depois as lentas... com situações engraçadas e constrangedoras que nenhum filme, nem de drama ou de comédia, jamais conseguiu reproduzir)...
Muitas vezes passo em certos lugares e quase que vejo as pessoas e as cenas acontecendo... quase que uma visão do passado, do multiverso... ou só uma imaginação fértil regada à cajibrina... mas nessa esquina não consegui ver muita coisa. Mesmo me esforçando.

Sem dúvida existem lugares e situações que geram uma memória afetiva... mas na maior parte das vezes são as pessoas.
É tudo sobre pessoas.

Adianta ir até aquela praia agora? O que terá lá? Mar, areia, uma praia mais urbanizada, ou mais conservada, ou mais depredada... talvez mais elitizada... mas jamais haverão aqueles sorrisos, aquelas baboseiras, aquele beijo...

Aquela chácara, aquele barzinho, aquela casa... não são nada. São imóveis... sem vida. Incapazes de gerar gargalhadas ou choro... no fim o que vale são as pessoas. (Tudo bem que algumas não valem nada no fim. Mas isso já é outra história...)

Há tempos li na VIP um texto comovente do Fábio Hernandez (pseudônimo do saudoso Paulo Nogueira que depois fundaria o DCM) que falava sobre "a" esquina... depois postarei inteiro aqui. 
Falava sobre como um dia ninguém mais foi...

"Nós não nos despedimos. Apenas um dia deixamos de aparecer naquela esquina em que cabia o mundo, e à qual às vezes volto, na imaginação e na saudade, em noites frias e escuras na busca do calor e da luz que a mera lembrança dos meus amigos traz."

Um dia saí da feira... mudaram meus círculos sociais... minhas metas, minhas companhias... tudo.

A feira era um tipo de teatro... a esquina um tipo de palco... e nós os atores iniciantes e canastrões buscando algum destaque... muitas vezes sendo ajudados pelo Diretor,  outras vezes O ignorando completamente... e sofrendo todas as consequências disso.

Aquele ato terminou há tempos. E seguem outros.

Pessoas. Pessoas. Sempre pessoas.

Talvez meu esforço pra tentar rever aqueles moços ali no murinho é uma busca por uma nesga do que fui e do que senti em tempos mais pueris.

Porque como disse o Russo, mesmo crendo com minha alma que o melhor tempo é o agora, esses são dias desleais.

Mas creio em Deus. Creio no amor. E ainda creio em algumas pessoas.

Amém. Amem.

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