sexta-feira, 20 de agosto de 2010

É permitido proibir-se

“É proibido proibir”, dizia o mote de maio de 68, sintetizando o vento libertário que começou a soprar naquela época. Fazia todo sentido, num mundo que ainda não tinha se livrado de ditaduras ambidestras e de moralidades sem nenhum jogo de cintura.

Mas “prisão” também pode significar liberdade. Sabemos disso desde pelo menos a Grécia antiga, graças à visão luminosa que o poeta cego Homero nos dá em sua Odisséia. Nela, sabemos, Ulisses se faz prender no mastro do próprio barco para resistir às sereias, cujo canto hipnótico, este sim, o prenderia para sempre. Aprendemos assim que a decisão autônoma de se privar da própria liberdade pode garantir, muitas vezes, uma liberdade mais plena.

Cuidado com o canto escravizante dos dias modernos


Numa época que está se definindo por um laissez-faire (algo como “deixa rolar” numa versão livre e informal do mais conhecido axioma em língua francesa) pra lá de insustentável, por um excesso de produção e consumo tanto de mercadorias quanto de informações, é muitas vezes necessário decidir amarrar-se a mastros.
A fartura sedutora que hoje é oferecida ao cidadão urbano tem se transformado num canto de sereia escravizante. Autodetenções podem vir a ser muito libertárias. Em pequenas coisas. Sei lá. Trancando o celular na gaveta quando for pra um encontro amoroso, bloqueando a caixa de e.mails no fim de semana, exilando-se da TV por um mês (ou pela vida! rs), detendo-se diante de uma compra compulsiva, fechando a boca periodicamente – seja para comer menos ou para ouvir mais, cortar uma bebedeira aqui e ali, recusar o convite pra uma festa ou noitada “sem limites”.
Coisas simples assim. Que mudam tudo!
É permitido proibir-se!!!

(Livre adaptação minha pro texto de Carlos Nader)

(Publicado originalmente no dia 15/12/2008)  
Link pro texto no blog antigo.

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